terça-feira, 29 de julho de 2014

Dilma devia ‘parar de dar entrevistas exclusivas’ para mídia conservadora, recomenda economista

29/7/2014 13:38
Por Redação - do Rio de Janeiro

Dilma deu uma aula de economia aos jornalistas da Folha
Dilma deu uma aula de economia aos jornalistas da Folha

A presidenta Dilma Rousseff conseguiu, na véspera, escapar de uma série de ‘pegadinhas’ preparadas contra ela por entrevistadores de um conglomerado de mídia ligado ao capital internacional. Mas não saiu ilesa. Segundo a doutora em Economia pela Sourbone e correspondente do Correio do Brasil, em Paris, Marilza de Melo Foucher, embora a presidenta Dilma tenha conferido “uma aula de economia” aos jornalistas presente, “os argumentos por eles fornecidos foram muitos fracos e distorcidos da realidade”.
Se esta entrevista tivesse, além de jornalistas da mídia conservadora, alguns jornalistas da imprensa alternativa e independente, “certamente o resultado teria sido outro”, afirma a economista.
Leia, a seguir, o texto de Marilza de Melo Foucher:
“Depois de ter lido a matéria escrita da Folha de São Paulo tomei meu tempo pra escutar a entrevista gravada em vídeo no UOL. Vocês podem fazer o mesmo para cruzar as informações entre o que a Folha chama sabatina no vídeo e a síntese do que escrevem. Verifiquem que a síntese escrita e as afirmações nas entrelinhas, de forma em geral, são feitas para desacreditar o discurso ou gerar dupla interpretação. A presidenta Dilma Rousseff, nesta entrevista deu aula de economia aos jornalistas da Folha (o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo) e seus associados. Eles fizeram varias tentativas para destabiliza-la, todavia, os argumentos por eles fornecidos foram muitos fracos e destorcidos da realidade. Se esta entrevista tivesse sido realizada com jornalistas da Folha e com alguns jornalistas da imprensa alternativa, certamente o resultado teria sido outro.
“Ela teria sido mais profícua para os leitores brasileiros que poderiam ter tido mais elementos para analise da realidade atual e na certa disporiam de dados para comparar com a administração de Fernando Henrique e, principalmente, teriam melhores condições para ver como diferentes governos agiram face à crise da economia mundial. A presidenta Dilma não é dotada de carisma e não tem uma oratória politiqueira, daquele discurso bem rodado para dar prazer para a platéia. Ela não sabe fazer isto, ela é muito pragmática e por vezes um pouco tecnocrática nas explicações, todavia, isto não pode ser considerado somente como um defeito político. Ela tem um costume, não sei se é mineiro ou gaúcho, de chamar todos de “querido”, como o paulista diz “meu bem”, talvez isto seja incômodo numa relação com jornalistas que estão lhe preparando armadilhas e só esperam lhe fazer atropelar nos verbos. De todo modo, isto faz parte do jornalismo.
“Agora, faço aqui uma observação. A Presidência da República e sua assessoria já estão caducas de saber que os especialistas em manipulação de fatos e reinterpretação de falsas análises são sempre os mesmos. Estes jornalistas trabalham para os mesmos grupos que são adversários políticos declarados do governo, além disso, têm ódio do PT. Isto impede que eles usem da objetividade. Daí, o ideal seria a presidenta parar de dar entrevistas exclusivas para eles, o que não quer dizer boicotá-los. Todavia, sua assessoria de Comunicação Social deveria convidar outros jornalistas da imprensa alternativa que entendam mais de economia internacional e saibam fazer analises comparativas. Além disso, ter como interlocutores jornalistas dotados de senso mais crítico e de maior imparcialidade, isto pode contribuir para ajudar a elevar o nível do debate que a oposição quer que se seja de mais baixo nível possivel.
“Somente teríamos todos a ganhar com a pluralidade dos meios de comunicação, ou seja com a presença de outros jornais que não sejam apenas aqueles da grande midia. Na certa os questionamentos seriam mais pertinentes e as contradições poderiam ser mais bem impostas para melhorar a qualidade das intervenções. O que me chamou atenção e me leva a escrever essas linhas foi a leitura da analise do jornalista carioca, editor-chefe do CdB, Gilberto de Souza. Ele faz certos questionamentos que eu penso, alguns, serem pertinentes”.
Aeroporto sai da mídia
A manipulação da opinião pública por parte das empresas que, num passado recente, apoiaram a ditadura militar no país e para a qual a presidenta Dilma mantém total prestígio e suporte financeiro pesado, segue a marcha de uma bem montada operação na tentativa de desaparecer com o aeroporto dos Neves do noticiário. Pretendem, assim, proteger o candidato do PSDB, da mídia e dos conservadores, ao Planalto, senador Aécio Neves (PSDB/MG). Basta observar a cobertura no final de semana sobre o aeroporto construído pelo então governador de Minas, Aécio (2003-2010), com dinheiro público do Estado, no município de Cláudio (MG).
Estudos junto à opinião pública mostram que Aécio teme o crescimento da rejeição (em média, em 17%, de acordo com as últimas pesquisas) após a divulgação do Aeroporto dos Neves. A revista IstoÉ desta semana, vejam só, uma revista semanal, só publicou uma frase, a do próprio Aécio Neves: “Está tudo explicado já”. Que aliás virou bordão dele. A revista semanal de ultradireita Veja não sonegou a informação a seus leitores, deu uma matéria de quatro páginas, mas, o foco é mostrar que Aécio é vítima. Para a revista, ele é uma vítima do PT, da campanha do partido contra o tucano, principalmente, pelas acusações que circulam nas redes e na blogosfera independente.
“Já o jornalão da família Marinho, O Globo, que nunca deu o caso com destaque, pôs uma pedra em cima no final de semana: nenhuma palavra a respeito. O diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo, por sua vez, nos dois dias do fim de semana saiu com meia página em cada um de entrevistas com personalidades que costumam aparecer no noticiário do jornal, como o tio-avô de Aécio, Múcio Tolentino, dono da fazenda em, que o agora candidato a presidente construiu o aeroporto à 6 km da sua própria Fazenda da Mata; e o presidente de uma entidade de classe de Cláudio (MG). Ambos defendendo a construção do aeroporto dos Neves. Claro”, mostra o site Vermelho.org.
Silêncio de FHC
Já o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, embora tenha concedido entrevista à IstoÉ na semana passada, um dia depois da Folha denunciar o aeroporto, em sete páginas a ele destinadas pela revista, simplesmente não tocou no caso. Fez o mesmo neste domingo, na página inteira dada a ele pelo Estadão. Pode ser que FHC, ou os veículos de comunicação, ou ambos, consideram dar de presente um aeroporto à família, um mimo de R$ 14 milhões, pago com dinheiro público de Minas, é um negócio de menor importância. Assim, praticamente só a Folha continua no caso. Neste domingo, inclusive, apontou que o QG da campanha Aécio teme o crescimento da rejeição ao tucano (em média, em 17%, de acordo com as últimas pesquisas) depois da divulgação do Aeroporto dos Neves.
O temor, aponta a matéria, levou o QG e assessores tucanos a optarem por operar os desmentidos nas redes sociais, (dai eles chegam aos outros veículos), para que o candidato tucano não se exponha falando a respeito. Nas redes, 80% desaprovaram a atitude de Aécio, de construir o aeroporto da família.
Redes sociais
A estratégia de usar as redes sociais, aponta a Folha, foi idealizada, montada e operada por Andréa Neves, irmã do candidato e que comandou por oito anos a área de Comunicação do governo de Minas, quando ele foi governador. A opção prioritária desta vez pelas redes é porque a mídia em geral já está com Aécio e cumprirá o papel que sempre cumpriu: o fazer de conta que noticia, mas defendendo o tucano; e, no limite, atribuindo ao PT a denúncia com fins eleitorais ou por pura perseguição dado ao “caráter autoritário” que atribuem ao PT.
Enquanto a imprensa some com o aeroporto da família Neves dos noticiários, Aécio come pastel de feira, ao lado do governador tucano paulista e também candidato à reeleição Geraldo Alckmin. Quer e tenta continuar governador, agora pela 4ª vez. No Rio, em campanha na 6ª feira, e em São Paulo, na companhia de Alckmin, o tucano candidato ao Planalto repetiu o bordão de sua campanha: “a reeleição da presidenta Dilma não gera boas expectativas” para o mercado, o mundo econômico. Coincidência, é a mesma toada de FHC em suas entrevistas!
É, também, a mesma campanha do comunicado do Santander encaminhado a seus 40 mil clientes-Select, os mais ricos. É o que disseram a seus clientes as quatro consultorias arroladas pela Folha no sábado (duas do Brasil, uma dos Estados Unidos, outra do Japão), que fazem relatórios a seus clientes espalhando terrorismo em relação à reeleição da presidenta. É a campanha do caos e aquilo que o presidente do PT, Rui Falcão, classificou de “terrorismo eleitoral”

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