sábado, 30 de agosto de 2014

Swissinfo entrevista o primeiro marido de Dilma

28/8/2014 20:21
Por Alexander Thoele, Swissinfo, de Berna


Cláudio Galeno Linhares, durante sua passagem pela Suíça, onde foi entrevistado
Cláudio Galeno Linhares, durante
sua passagem  pela Suíça, 
onde foi entrevistado
O primeiro marido da atual presidente do Brasil, Cláudio Galeno Linhares, tem um longo passado na luta armada durante os anos da ditadura. Foi quando chegou até a sequestrar um avião e fugir para Cuba. Hoje o jornalista prefere ver sua vida como um espelho de um continente conturbado. Em entrevista à swissinfo, passa em revista os motivos que o levaram à clandestinidade.
Nos anos duros da ditadura militar no Brasil, seu casamento com a atual presidenta do Brasil foi apenas um pequeno e curto capítulo na vida dos dois. A biografia oficial de Dilma Rousseff no site da Presidência da República nem chega a citá-lo. Porém o jornalista Cláudio Galeno Linhares não se incomoda com esses detalhes da historiografia oficial ao olhar para trás e se lembrar de uma vida bastante agitada, o suficiente para preencher vários volumes.
Foram anos de participação na luta armada, quando chegou a sequestrar um avião da Cruzeiro do Sul junto com outros guerrilheiros em 1970, os vários anos na clandestinidade e passagem por países em plena revolução como Cuba, Bolívia, Chile e Nicarágua, e anos de exílio na Itália e França, para retornar ao Brasil no processo de democratização e ainda participar de governos.
Hoje aposentado e radicado há muitos anos em Manágua, Galeno visita uma vez por ano a filha e as netas em Bienne, uma cidade ao leste da capital suíça, Berna. Foi quando recebeu o repórter da Swissinfo para conversar sobre o passado de militante. Entre um cigarro e outro, sob o sol do verão na varanda de uma casa geminada nos subúrbios da cidade, o jornalista de 72 anos, não se esquivou de falar do seu relacionamento com a presidenta, com quem tem contato próximo até hoje.
- Você é o que podemos chamar de um típico mineiro?
- A minha família paterna e materna é originária de Itabira (100 quilômetros ao leste de Belo Horizonte). Eu nasci em Ferros, uma cidade próxima à Itabira, e passei a minha infância e adolescência nessa região. Meu pai era farmacêutico. Depois fui estudar em um colégio interno em Conceição do Mato Dentro dirigido por padres franciscanos. Foi uma boa experiência de vida. Depois fui para Belo Horizonte para estudar ciências sociais na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belo Horizonte.
- Você começou a militar nessa época?
- Sim, sou um velho militante, eu e o Bakunin (risos). Eu era militante da Polop (n.r.: Organização Revolucionária Marxista Política Operária), um grupo à esquerda do Partido Comunista. A gente fazia aquelas análises sofisticadas em relação ao caráter da revolução brasileira. Tínhamos muita força no meio estudantil, cultural e alguma expressão operária. Após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e logo depois a tentativa de golpe em 1961, houve então a campanha da legalidade, quando nos incorporamos à ideia do Brizola. Em 1964 fui então preso.
- Qual foi o motivo?
- Devido às minhas atividades clandestinas. A gente estava tentando aglutinar essas forças da marinha e do exército no Rio de Janeiro que haviam sido excluídas e expulsas. No meu caso, fui preso em junho de 1964, alguns meses depois do golpe. Primeiramente fiquei preso no porta-avião Minas Gerais. Depois na Ilha das Cobras e então no 1° Distrito Naval.
- E o que ocorreu depois? Quando foi libertado?
- Foi em novembro, graças a um habeas-corpus impetrado pelo advogado Sobral Pinto. Naquele momento a ditadura ainda não tinha fechado o Parlamento e não estava institucionalizada, ou seja, com todas as suas sutilezas, legais ou ilegais. Em dezembro no mesmo ano, uns agentes da marinha bateram na porta de casa. Por sorte não estava e fui para São Paulo. Aí entrei na clandestinidade. Depois, no final de 1966, regressei a Belo Horizonte. Não fui condenado e o processo acabou sendo arquivado. Então voltei a trabalhar para o jornal Última Hora como jornalista.
- E o que você fazia no jornal?
- Eu trabalhava em um caderno que saía no final de semana. Eram temas culturais, variedades e outros. Era uma equipe pequena, quase todo mundo de esquerda e que estava refugiada das outras grandes redações. Entre 1966 e 1968 a coisa começou a ficar preta.
- Foi nessa época que você conheceu a atual presidenta Dilma Rousseff? Li que vocês começaram a namorar assistindo um filme do Fellini…
- Sim, ela era militante do movimento estudantil. Não me lembro mais, mas é possível que tenha começado no cinema (risos). A gente frequentava muito o CEC, o Centro de Estudos Cinematográficos, em Belo Horizonte. Era um lugar onde passavam bastantes mostras temáticas como as do Fellini, a Nouvelle Vage francesa e até mesmo filmes japoneses, indianos, poloneses e outros. Coincidentemente, os grupos que frequentavam esse lugar eram de oposição à ditadura.
- E por que você e a Dilma decidiram casar? Era o sonho, afinal, de ter uma vida normal, burguesa?
- A gente se casou como se casa todo mundo: se apaixona, namora e pronto. Mas a minha geração já tinha rompido com essas tradições conservadoras de Belo Horizonte.
- Na época você tinha 25 anos e ela, 19. Você seria o teórico e ela a militante que seguia mais suas emoções?
- Não. Eu era apenas um militante a mais. Nós debatíamos muito. Eu era o mais velho daquele grupo de jovens, do qual fazia também parte o Fernando Pimentel, atual candidato ao governo de Minas Gerais. Como eu já tinha sido preso, talvez fosse como uma espécie de ficha marcada no movimento político da cidade.
- E qual era a proposta de seu grupo na época? Instigar uma revolução e instituir no Brasil uma ditadura do proletariado?
- Nós éramos socialistas de origem – sou até hoje. A gente acreditava que deveria haver uma revolução democrática do país. Tínhamos de mudar a forma de governo.
- Mas não através de eleições?
- Não havia a possibilidade de eleições, pois eles (os militares) as bloquearam. Apoiávamos o Jango. Você pode enfrentar uma ditadura através de uma revolução, como vimos atualmente com a Primavera Árabe. Eu não faço autocrítica disso. Acho que estávamos corretos…
- Porém a luta armada de esquerda no Brasil acabou fracassando. Por que ela mobilizou tão poucos brasileiros?
- Não conseguimos, de fato, mobilizar as pessoas. Éramos uma força muito pequena. Essa é a autocrítica que faço. O problema não foi ter faltado a linguagem, mas sim a força política. Éramos uma vanguarda, que desbravava e chegava a ter sucesso em outros países, mas no Brasil acabou não funcionando. Deu errado. Avaliamos mal a correlação de forças, politica e militarmente. Pelos menos, do ponto de vista político, chegamos a sensibilizar a opinião pública e levar a denúncia ao mundo.
- E afinal, qual foi o legado?
- Se você ver todos os personagens dessa época, descobre que muitos representantes da esquerda brasileira tiveram um papel importante na redemocratização e no fortalecimento da democracia após a ditadura.
- Porém o regime militar no Brasil justificou a repressão – e o AI-5, por exemplo – como uma resposta aos atos violentos cometidos por esses ativistas, como assaltos a bancos ou sequestros…
- Quando você está numa opção de luta armada, não pode escolher os cenários de luta, que eram definidos pela própria conjuntura. No nosso caso, do sequestro de avião, o fizemos para salvar a vida de companheiros que estavam presos. Não foi em vão! Na época eles mataram muita gente. E outras ações como as do Carlos Marighella, a Guerrilha do Araguaia, foram tentativas de resistir. É muito difícil rever o passado a partir de uma perspectiva diferente da vivida naquele momento. Era preciso ver o que ocorria nos quartéis, nas prisões, as formas de tortura, as nossas experiências nas prisões e os depoimentos que chegavam até nós. Tudo isso nos levava à conclusão que era precisa fazer algo e romper com o silêncio de cumplicidade dos meios de comunicação. Era preciso fazer coisas se destacar, de tal forma que isso permitisse lançar um manifesto público que fosse conhecido pela população brasileira.
- Foi quando você e outras pessoas sequestraram o avião 114 da Cruzeiro do Sul em 1° de janeiro de 1970?
- Depois desse evento já tive contato com o pessoal da tripulação. Muitos deles ainda estão vivos. Na época, não parecíamos para eles como terroristas. Éramos jovens, pessoas normais e que lhes trataram muito bem, pois não tínhamos nada contra eles. Meu pai, que era um homem muito conservador – não podendo ser considerado alguém de esquerda e que não apoiava essa ação – fez uma declaração, que me impactou na época, dizendo “não, ele está lutando; ele não é um terrorista, bandido”. Eu não fico tocando nesse assunto, pois são coisas que passaram.
- O que os motivou?
- Tinha um grupo, do qual fazia parte o Fausto Machado Freire, que havia sido preso na época, mas nenhum órgão da repressão reconhecia essa prisão. Nossa principal exigência era o reconhecimento, por parte da ditadura, de que essas pessoas estavam presas e sendo torturadas e que fosse permitida a visita a eles de membros da família e advogados.
- O objetivo foi depois alcançado?
- Sim.
- E então você quis ficar em Cuba?
- Não, meu negócio era o Brasil.
- Mas depois de uma ação dessas era quase impossível retornar…
- Mas não se eu fosse ficar na clandestinidade. Tentei retornar através do Uruguai, mas quando estava por lá apareceu um emissário dizendo que não podia mais voltar, pois a situação estava perigosa. Então fui para Bolívia. Quando cheguei, ocorreu logo depois o golpe do Torres (n.r.: Juan José Torres Gonzáles, que se tornou presidente em 7 de outubro de 1970). Cheguei dois dias depois do golpe e decidimos – nosso grupo, o VAR-Palmares, se comunicava entre si – que eu iria para o Chile.
- E como foi a vida no Chile?
- Era um momento muito bom no país. Eleito presidente em 1970 depois da vitória expressiva de um movimento popular, Salvador Allende proporcionava um ambiente muito propício para nós. Eram mais de cinco mil brasileiros que estavam por lá, ou mais. Havia pessoas como o Fernando Henrique Cardoso, a Dona Ruth ou também Darcy Ribeiro. Nós editávamos um boletim informativo chamado Frente Brasileira de Informações, no qual o José Serra era também o meu companheiro de redação. O boletim era apoiado pela irmã do Miguel Arraes que era casada com um diretor do Le Monde na França.
- Foi lá que você conheceu a sua atual esposa, uma nicaraguense?
- Lá conheci a Maira, que era uma líder estudantil na luta contra o Somoza (Anastasio Somoza Debayle, presidente da Nicarágua entre 1967 a 1972, e de 1974 a 1979). Ela havia participado de um ação de massa, ao entrar em um estádio de basebol com uma faixa escrita “No más Somoza”. Então ela foi ao Chile estudar e nós nos conhecemos e casamos. Foi no Chile que nasceu depois a nossa filha mais velha.
- E vocês depois de alguns anos, assim como vários outros exilados, tiveram que abandonar o Chile após o golpe militar de 1973?
- Saímos a toque de caixa através do Panamá, 20 dias depois, em uma operação apoiada pelas Nações Unidas. A nossa casa tinha sido invadida por forças de segurança chilenas e tudo foi destruído, inclusive com presença de brasileiros, ou pessoas que falavam o português. Felizmente a gente não estava mais por lá, pois já sabíamos do perigo. Passamos uns dias na casa de um amigo de longa data, o José Aníbal, que saiu há pouco da secretaria de Energia do governo estadual de São Paulo. No Panamá, o presidente era o general Omar Torrijos. O famoso Noriega era o ministro do Interior. Depois nos exilamos na Itália, onde nasceu a nossa segunda filha. Ficamos três anos por lá e depois mais quatro na França.
- Durante esse tempo você manteve contato com a Dilma?
- Ao sair da prisão, ela veio nos visitar na França. Na época já estava casada com o Carlos Araújo, que também é um grande amigo da família. Nosso contato é tão forte que as nossas filhas a chamam até hoje de tia Dilma. Somos avessos às convenções tradicionais. A esquerda não é tão apegada a essas coisas e por isso nosso relacionamento ainda é bastante forte.
- E depois da França vocês retornaram ao Brasil?
- A França nos deu refúgio político oficial. Tínhamos um laissez-passer e toda a documentação francesa como carta de trabalho ou de residência. Só retornamos ao Brasil em dezembro de 1979, alguns meses depois de promulgada a Lei da anistia.
- A readaptação no Brasil foi fácil?
- Passamos alguns anos em Porto Alegre, onde recebi uma oferta de emprego. Depois fui assessor de comunicação durante todo o primeiro governo do Leonel Brizola (1983 a 1987). Depois, quando o Moreira Franco ganhou as eleições, fiquei ainda um tempo trabalhando na Assembleia Legislativa e depois surgiu a decisão de retornar à Nicarágua, que era a grande reivindicação da minha mulher. Foi então que decidi mudar de país e estou até hoje por lá…
- Vocês chegaram à Nicarágua em plena guerra civil?
- Felizmente a guerra não afetava a vida em Manágua. A situação mais complicada era ao norte do país, na fronteira com Honduras.
- Você tem contato com a presidenta Dilma? Falam de política?
- Eu estive em 2011 em Brasília para prestigiar a posse de Dilma na Presidência. Vez ou outra nos falamos, mas não muito, pois ela nem tem tempo. São tantos amigos que, se todos pedissem uma audiência, ela não faria mais nada (risos).
- Se você pudesse conversar com ela sobre algo que, a seu ver, deveria ser feito absolutamente no Brasil, o que seria?
- A reforma política. É um tema muito complexo, que envolveria financiamento de partidos, a fidelidade partidária, o sistema de voto, da representatividade no Congresso e outros.
Alexander Thoele é jornalista na agência suíça de notícias Swissinfo.



domingo, 24 de agosto de 2014

Dilma: “Quero mostrar as conquistas desse país, mostrar que o país mudou”

24/8/2014 15:41
Por Redação, com ABr - de Brasília

Dilma falou, nesta segunda-feira, aos entrevistadores de um grupo de veículos da mídia conservadora
Dilma tem falado mais em entrevistas coletivas
Cumprindo agenda eleitoral em Brasília, a presidenta Dilma Rousseff disse, neste domingo, que está mais preocupada com sua campanha do que com os adversários políticos e a mudança do quadro eleitoral após a entrada de Marina Silva na disputa. Segundo ela, a campanha dá oportunidade para uma prestação de contas do que foi feito em três anos e oito meses de seu governo.
– Quero mostrar as conquistas desse país, quero mostrar que o país mudou, que hoje a filha de um pedreiro pode virar doutora, que hoje você vê uma empregada doméstica viajando de avião para ir visitar seus parentes – disse Dilma. Segundo ela, não existe mais barreira de renda no Brasil.
Em entrevista coletiva no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência da República, ela também minimizou o impacto na Petrobras e na campanha das denúncias de irregularidades relacionadas a diretores e gestores da estatal.
– O Brasil e nós todos temos que aprender que se pessoas cometeram erros, malfeitos, crimes e atos de corrupção, isso não significa que as instituições tenham feito isto. Não se pode confundir as pessoas com as instituições – afirmou.
Dilma assegurou que a Petrobras é “muito maior que qualquer agente dela, diretor ou não, que cometa equívocos e crimes”. A candidata evitou comentar sobre a decisão do ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, de propor acordo de delação premiada para colaborar nas investigações sobre corrupção nos negócios da empresa.
A candidata ainda negou que haja atraso no pagamento de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em resposta às declarações de empreiteiros que afirmaram não receber os valores de parcelas nos dias acertados com o governo. Segundo ela, “o que existe é um delay normal” entre o empenho do dinheiro, a fiscalização das obras e o pagamento.
Dilma Rousseff almoçou com o escritor e jornalista Lira Neto, autor da trilogia sobre Getúlio Vargas, cujo suicídio completa 60 anos neste domingo. Ela também elogiou o filme de João Jardim sobre o ex-presidente, lembrando que são obras que desvendam um político que deixou sua marca no país.
– Se nós não entendermos a história do nosso país, não entenderemos a construção da nação brasileira. Um país é feito da sua história, das suas memórias, das suas lideranças políticas – concluiu.

Tags: , ,

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Erro do piloto pode ter derrubado jato de Campos

BAND20 de Agosto de 2014 | 01h00

Um erro de procedimento do piloto é uma das hipóteses para a tragédia com o jatinho que levava Eduardo Campos, em Santos (SP). No manual do fabricante existe um alerta sobre uma manobra que deve ser evitada porque pode derrubar esse modelo de avião.
A análise dos destroços recolhidos no local do acidente com o jato executivo do candidato a presidência Eduardo Campos começa a indicar as primeiras possibilidades da tragédia que matou sete pessoas na semana passada. Para os peritos, os flaps do jato podem dar a resposta.
O acionamento dos flaps serve para dar mais sustentação ao avião em baixa velocidade e altitude, na hora do pouso, da decolagem e também em caso de arremetida, como aconteceu no dia do acidente.
A recomendação da Cessna é que os flaps não sejam recolhidos quando o avião voltar a acelerar e passar dos 370 quilômetros.
O alerta está no manual dos pilotos: "Atenção, não recolha os flaps acima de 200 nós (370 km/h)”. O movimento associado do estabilizador pode provocar um mergulho significativo do bico da aeronave se esse movimento não for evitado.
“A arremetida em Santos é feita em curva e subindo. Eu tenho a impressão que ele na curva recolheu o flap, o avião picou, ele não conseguiu recuperar e deve ter batido em alguma coisa. Foi aí que começou o acidente", afirmou Ruy Torres, piloto aposentado.
Segundo testemunhas, o avião teria caído de bico. O Cessna Citation 560 XL possui um sistema de proteção para evitar o recolhimento dos flaps nessa situação. De acordo com o comandante da FAB, Brigadeiro Juniti Saito, já se sabe que os flaps estavam recolhidos, mas ainda não é possível saber se isso contribuiu para o acidente.
A força aérea diz também que se o avião tivesse uma segunda caixa preta - que grava dados do voo - seria possível apontar a velocidade e a altura da aeronave no momento da arremetida. Mas esse tipo de jato executivo não é obrigado a ter esse aparelho. Para piorar, o sistema de gravação de voz da cabine não registrou as conversas entre piloto e copiloto no dia do acidente.
Além da aeronáutica, técnicos da fabricante do avião e das turbinas apuram as causas da tragédia. A expectativa é que o trabalho demore mais de um ano para ser concluído.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Com Marina com chance de 2º turno, PSB quer Renata Campos como vice

A viúva de Campos já deu indicações de que não aceitará a indicação para ser candidata a vice na chapa do PSB, mas partido deve sinalizar que a quer na vaga. Pesquisa Datafolha mostrou Marina com chance de ir ao 2º turno
notícia 0 comentários
Compartilhar

No mesmo dia em que a pesquisa Datafolha indicou, pela primeira vez, possibilidade real de o PSB chegar ao segundo turno da eleição presidencial, com Marina Silva, a viúva de Eduardo Campos, Renata Campos (PSB), tornou-se personagem central na definição do cenário eleitoral após a morte do marido.

O partido ainda não confirmou Marina, candidata a vice-presidente, como nova cabeça de chapa, no lugar de Campos. A oficialização deve ocorrer em reunião amanhã, em Brasília. Porém, ela já era dada como nome certo, principalmente depois que o Datafolha mostrou ontem que ela tem 21% das intenções de voto, atrás de Dilma Rousseff (PT), que tem 36%, e tecnicamente empatada com Aécio Neves (PSDB), que tem 20%.

Os movimentos agora se voltam para a definição do vice. Entre os líderes do partido, o nome de Renata para compor a chapa com Marina é consenso. Na reunião de amanhã, o novo presidente nacional do PSB, o cearense Roberto Amaral, e Carlos Siqueira, coordenador da campanha de Campos, devem fazer um aceno para Renata, sinalizando que o partido deseja que ela ocupe a vaga - ou, pelo menos, que não se oporia caso ela tenha interesse. “Não vou oferecer nada. Mas vou ouvi-la. Depois, ouvir Marina e os partidos aliados”, disse Amaral.

Desde a morte de Campos, em um acidente de avião em Santos (SP), na última quarta-feira, 13, Renata tem rejeitado a ideia de ser vice da chapa dizendo a amigos que precisa se dar atenção aos cinco filhos com Campos.

Irmão de Eduardo, Antonio Campos falou ontem sobre a resistência de Renata a assumir o posto. “Mas, se decidir, tem nosso apoio”.

“Grande liderança”
A viúva chegou a evento ontem no Recife, um dia após o sepultamento do corpo do ex-governador e no dia do aniversário de 47 anos de Renata, aos gritos de “Renata vice” e “guerreira”.

“A grande liderança do partido hoje é Renata Campos. Peço que Renata esteja sempre conosco”, disse Amaral.

Ontem, o substituto de Campos na presidência do PSB se reuniu com Renata para pedir formalmente seu aval à indicação de Marina. A viúva disse que aprova a candidatura e que essa seria a vontade do marido. (com informações da Folhapress)

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Lula 2018 namora o espólio de Eduardo Campos e quer controlar um novo governo Dilma

Com o desgaste de Gilberto Carvalho no Planalto, o ex designou um novo porta-voz informal para seus recados ao palácio e ao público, o presidente do PT, Rui Falcão

artigo_scartesini.qxd
Ex-governador Eduardo Campos deixa a cena e 
embaralha o quadro sucessório, o que confunde 
até o PSB
 
Eduardo Campos gostaria de observar de perto como o PSB administra a perda de seu líder e presidente no acidente aéreo de quarta-feira em Santos. Ao decidir pela candidatura própria do partido na sucessão presidencial, Campos a conduziu como forma de abandonar a antiga subordinação aos interesses do PT, contra a tendência do então vice-presidente do PSB, Roberto Amaral.
Agora na coordenação da sucessão de Campos como presidenciável, Amaral continua a preferir o partido socialista como linha auxiliar do PT de Lula. Por isso, resistiu à composição, em outubro, com Marina Silva. Mas praticamente se rendeu a Marina ao reconhecê-la como virtual candidata, na sexta-feira, 15, depois de oferecer ao PSB a oportunidade de rediscutir o futuro do partido.
Um dos riscos para o PSB é Marina se eleger pelo partido e depois continuar a insistir na criação da Rede. Levaria consigo quadros e eleitores socialistas. Se for eleita e continuar no PSB, poderá se afastar do programa socialista? Em qualquer hipótese, como ficariam os ambientalistas e políticos que recrutou para a Rede? Poderão se sentir logrados.
Entrou em jogo também a coesão dos socialistas sem o carismático comando de Campos. Assim como ambientalistas e políticos se preocupam com o futuro da Rede, o partido que Marina tentou fundar, mas malogrou no Tribunal Superior Eleitoral, há dez meses, porque não convinha ao Planalto ter um novo candidato de oposição à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Em contatos com socialistas influentes no partido, Lula abriu as portas do PT ao reatamento da antiga aliança que Campos rompeu. Tentou ainda conquistar um lugar para Dilma nos palanques regionais do PSB, como em São Paulo. Junto à família Campos, o ex-presidente apresentou solidariedade pela morte inesperada. Mas a família já declarou apoio a Marina como herdeira.
Ao público, Lula reconheceu interesse pela reaproximação com o PSB, mas prometeu ações apenas depois do enterro de Campos. “Obviamente que mudou a conjuntura política e eu não sei qual o tamanho do impacto”, claudicou duas vezes na declaração e prosseguiu:
— Não vamos tentar antecipar os fatos. Vamos esperar enterrar o companheiro Eduardo e os companheiros que estavam com ele, e depois voltamos a falar da política, a falar da campanha.
A consagração de Marina como presidenciável não é boa para Dilma, mas é pior para Aécio Neves (PSDB). Seria a certeza de que haveria uma segundo turno na eleição — tudo o que Campos desejava para cavar uma posição para si na disputa mano a mano da final. Ao entrar no páreo, Marina pode ocupar a vice-liderança e retirar o tucano Aécio do segundo turno.

As contas marineiras, porém, baseiam-se em boa parte no desempenho que Marina obteve ao se candidatar em 2010. No primeiro turno, ficou em terceiro lugar com 19,6 milhões de voto — ou 19,34% dos eleitores. A segunda disputa ficou entre Dilma e o tucano José Serra. Resta observar se Marina manterá o mesmo carisma quatro anos depois em outro cenário de disputa.
A favor de Aécio fica a possibilidade de Marina fechar o palanque tucano paralelo que Campos abriu em associação à reeleição do governador Geraldo Alckmin. Na parceria com Campos, o tucano até assumiu como vice em sua chapa o presidente do PSB no Estado, deputado federal Márcio França. Se Marina fechar o palanque, Alckmin fica inteiro para Aécio.
Ela tem razões apara virar as costas ao governador. Na quarta-feira, Marina só não estava no avião de Campos porque o roteiro dele em São Paulo incluía contatos com Alckmin. Ao assumir a candidatura a vice, cortou o namoro entre Campos e Aécio em busca de parceria no segundo turno presidencial. Enfim, Marina não gosta de tucanos.
O virtual segundo turno deste ano levou Lula a retomar a disputa com a sucessora Dilma pelo controle da campanha da reeleição. O conflito entre lulistas e dilmistas desgastou o espia palaciano de Lula, o secretário-geral, Gilberto Carvalho. Por isso, no começo da semana o presidente do PT, Rui Falcão, apresentou-se como novo porta-voz de Lula junto ao poder.


domingo, 17 de agosto de 2014

Enterro de Eduardo Campos está previsto para fim da tarde em Recife

Publicada em 17/08/2014 09:07:13

Recife (PE) já prepara as despedidas ao ex-governador Eduardo Campos neste final de semana. Cerca de 100 mil pessoas são esperadas para o cortejo e enterro do político.
Além da presidenta Dilma Rousseff, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do presidenciável pelo PSDB, Aécio Neves, e de Marina Silva, vice na chapa de Eduardo Campos, 12 governadores já confirmaram presença nas cerimônias.
Está prevista para este domingo (17/8), às 10h, a celebração da missa, pelo arcebispo de Recife e Olinda, dom Fernando Saburido, em frente à sede do governo de Pernambuco
O sepultamento está marcado para as 17h. Do Palácio do Campo das Princesas, os corpos seguirão em um caminhão do Corpo de Bombeiros e devem ser acompanhados a pé pela população em um cortejo até o cemitério de Santo Amaro, próximo ao centro do Recife.
Traslado dos corpos
Os corpos das vítimas do acidente foram liberados no fim da tarde de sábado (16). Sete carros formaram o comboio que saiu do Instituto Médico-Legal (IML) em direção à Base Aérea de Guarulhos.
Autoridades e parentes que acompanharam o trâmite da liberação dos corpos também saíram acompanhando os veículos. Após a saída, correligionários e apoiadores de Eduardo Campos gritaram palavras de ordem e cantaram o Hino do Brasil.
O corpo do piloto Geraldo Magela Barbosa da Cunha seguiu para Minas Gerais

sábado, 16 de agosto de 2014

Marina embarca para Recife para funeral de Campos

Mais de 500 autoridades devem comparecer ao velório e ao enterro

CLIQUE E CONFIRA > 

http://noticias.r7.com/eleicoes-2014/marina-embarca-para-recife-para-funeral-de-campos-16082014

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

João Henrique, 20 anos: o sucessor político, e de sangue, de Eduardo Campos

Por Bruna Talarico - iG São Paulo* |

Segundo dos cinco filhos de Eduardo Campos é estudante de engenharia na Federal de Pernambuco e militante do PSB

As campanhas políticas de Eduardo Campos mostraram, de forma recorrente, registros fotográficos que o colocavam lado a lado com sua versão mais jovem - e mais fiel. Os olhos claros e o sorriso largo ainda estão lá, no rosto de João Henrique Campos, segundo de seus cinco filhos com a economista Renata de Andrade Lima Campos.
Aos 20 anos, João Henrique já possui uma história na política e é considerado sucessor natural do pai. Na última quinta-feira (14), um dos primos de Eduardo Campos, Joaquim Pinheiro, disse a jornalistas que estavam em frente à casa da família, no Recife, que João Henrique reforçou o desejo pela manutenção do legado político do pai: "Perdi um pai e um líder, mas tem de se dar um jeito para que a bandeira dele não caia, porque os ideais dele são o futuro do Brasil."
Reprodução/Internet
Segundo filho de Eduardo Campos, João Henrique é filiado ao PSB, acompanhava o pai em compromissos de campanha e é tido como seu sucessor natural na política (14.08)

Filiado ao PSB, que tinha o pai como presidente nacional, o jovem se orgulha de ter "participado de todos os grandes movimentos conduzidos pelo partido, com destaque para as vitoriosas campanhas do ex-governador Eduardo Campos", conforme escreveu em comunicado que declinava o convite para candidatura à Juventude do PSB. Como exemplos de seu engajamento, ele cita as eleições de 2006 e 2010, quando o pai concorria para governador e João Henrique tinha apenas 12 e 16 anos, respectivamente; e a campanha do prefeito Geraldo Julio, em 2012, quando João tinha 18 anos.
Análise: Perto da velha política, Eduardo Campos pregava a renovação
Descrito por pessoas que estiveram com João e o pai em agenda política como um rapaz articulado, inteligente e capaz de conversar com fluidez sobre assuntos áridos da política e da economia, João é estudante de engenharia civil na Universidade Federal de Pernambuco, onde também cursam a graduação seus irmãos Pedro (engenharia civil) e Maria Eduarda (arquitetura).
Aos 20 anos, ele cursa engenharia civil da Universidade Federal de Pernambuco; aos estudos, concilia a militância pelo PSB, partido ao qual é filiado (14.08). Foto: Reprodução/Facebook
1/8 
 
Sobre o ingresso oficial na política em idade tão precoce, ele costuma responder que prefere se dedicar aos estudo e esperar para conquistar a experiência que lhe permitiria "assumir o grande desafio que é o de defender o legado de Miguel Arraes e Eduardo Campos".  
"Só farei isso (me candidatar) quando entender que estou pronto, respeitando todos os processos democráticos de escolha. Apresentarei meus argumentos e espero ser reconhecido pelos meus méritos e não pelas minhas ligações familiares", complementou no mesmo texto. 
 
Avô de Campos e bisavô de João Henrique, Miguel Arraes é um líder histórico da política brasileira, oposicionista ferrenho ao regime militar e governador de Pernambuco por três mandatos.

Candidatura a deputado adiada
No início deste ano, João chegou a ser cotado como candidato a deputado federal pelo PSB, mas as especulações chegaram ao fim após uma confusão familiar envolvendo sua prima, a vereadora Marília Arraes, também filiada ao PSB. 
Na ocasião, ela acusou a cúpula do partido de impor aos correligionários a candidatura de João Henrique.
Cientista político da Universidade Federal de Pernambuco, Michel Zaidan diz que João Henrique é "sucessor de uma oligarquia política de Pernambuco". 
Suas críticas, no entanto, encontram um limite no preparo que um herdeiro de família com raízes na política conquista desde o berço. 
"O jovem, que ao entrar na política já tinha um ambiente familiar propício, chega moldado. Ele não teria essa experiência política de outra forma, já que não há curso ou escola para se aprender política. Os contatos e as oportunidades desde cedo são muito importantes", avalia. "A questão da família não é de todo mal. O problema é a falta de rotatividade."
Cenário: PSB tenta superar divergências e decidir destino de Marina Silva
Zaidan lembrou ainda que o próprio Eduardo Campos iniciou seus compromissos políticos aos 13 anos, quando foi militante do movimento estudantil e acompanhava o avô, Miguel Arraes. 
* Com LeiaJá

Leia tudo sobre: Eleições 2014PSBmorte de camposEduardo Campos

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Adversários já se preparam para enfrentar Marina Silva



Ouvir o texto
 
Em meio ao choque causado pela notícia da morte de Eduardo Campos, integrantes do PSB, do governo Dilma, do PT e da campanha do tucano Aécio Neves avaliam reservadamente acreditar na consolidação, nos próximos dias, do "caminho natural" –ou seja, a oficialização do nome de Marina Silva para a Presidência da República.
Apesar disso, no entorno de Marina e do PSB quase todos ressaltam que só passado o abalo inicial e o luto pela morte do ex-governador de Pernambuco será possível haver uma definição clara. O partido terá 10 dias para anunciar um novo candidato, se esta for a alternativa escolhida.
Um dos indicativos que apontam para a ida de Marina para a cabeça de chapa está na nota lida nesta quarta (13) pela coligação liderada pelo PSB, em que é citada frase de Campos de que as pessoas não podem "desistir do Brasil". "A perda de Eduardo encerrou sua vida, mas não seus ideais", diz o texto.
Sem ter conseguido montar um partido político para disputar o Palácio do Planalto, Marina Silva acabou se filiando ao PSB e aderindo à candidatura de Campos em outubro do ano passado.
Tendo obtido 19,6 milhões de votos para presidente em 2010 (ficou em terceiro na disputa), e com desempenho bem melhor do que Campos nas pesquisas de intenção de voto, a ex-senadora era frequentemente citada como uma "sombra" do ex-governador, ameaçando-lhe a prevalência na chapa.
Mas Campos controlava toda a máquina partidária. Além disso, o grupo político de Marina sempre deixou claro que deixará a legenda assim que conseguir validar sua própria sigla na Justiça Eleitoral, a Rede Sustentabilidade.
Essa divisão ficou explícita nos últimos meses na definição dos palanques regionais –Marina reprovou publicamente os acertos feitos pelo PSB com o PT no Rio e com o PSDB em São Paulo–, o que pode representar uma ameaça à viabilidade de uma candidatura. Ontem mesmo, nos bastidores, uma ala do PSB já defendia a escolha de um nome genuíno do partido para substituir Campos.
No PT e no governo Dilma, a avaliação preliminar é que haverá uma ''comoção'' que contribuirá para a consolidação da candidatura de Marina no lugar de Campos.
Interlocutores do ex-presidente Lula dizem que o ideal, para a candidata Dilma, seria o PSB optar pela neutralidade, mas avaliam que isso é praticamente impossível.

Se a entrada de Marina na disputa se viabilizar, a cúpula petista prevê prejuízos para Dilma, pois, segundo eles, ficaria praticamente assegurado um segundo turno. Já se Marina não for a escolhida, o PT teme que setores do PSB migrem para a candidatura de Aécio.
Já para o PSDB, a candidatura de Marina é nociva por tirar votos hoje endereçados ao tucano Aécio Neves. Em compensação, os tucanos fazem a mesma avaliação dos petistas, de que o segundo turno fica garantido. Acreditam, também, que apoios de partidos como o PPS poderiam migrar para o PSDB, por não terem identificação ou simpatia por Marina.
ATAQUE ESPECULATIVO
Em um movimento posterior à definição da candidatura de Marina, segundo petistas, haverá um "ataque especulativo" tanto do PSDB como do PT ao PSB.
Nesse cenário, o partido de Aécio investirá nas frentes pessebistas em São Paulo e Minas Gerais, diretórios mais alinhados com os tucanos. O PSB mineiro, por exemplo, faz parte do governo tucano, no qual comanda a Secretaria de Educação.

Por outro lado, o PT vai tentar acordo com as regionais do PSB de Pernambuco, Amapá, Rio Grande do Norte e Espírito Santo, mais alinhadas com os petistas.
Nas palavras de um integrante do comitê presidencial de Dilma, Marina seria ''candidata dela mesma'', assim como ocorreu em 2010 quando ela se lançou na disputa presidencial pelo PV, com tempo de TV insignificante e poucos apoios estaduais.
Visivelmente abatida, Marina fez nesta quarta um breve pronunciamento. "A imagem que eu quero guardar dele foi da nossa despedida. Cheio de alegria, cheio de sonhos, de compromissos. É com esse espírito que peço a Deus que possa sustentar sua família e a todos nós", disse.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Paulo Emílio, Pernambuco 247 - A morte do presidenciável Eduardo Campos estabelece de imediato, em meio à dor da família e ao choque do País, uma questão política crucial para o partido que ele presidia: o PSB deve insistir e persistir numa candidatura própria, ausentar-se da sucessão ou instalar a vice Marina Silva, filiada ao partido mas pertencente ao grupamento Rede, no lugar dele?
A hipótese de prevalecer a solução que alguns consideram natural - a escolha de Marina -, não é tão simples de ser concretizada. Ao longo de toda a campanha presidencial até aqui, ela se posicionou frontalmente contrária à maioria das alianças regionais feitas pelo PSB, inclusive a de São Paulo, que colocou um candidato a vice socialista, Márcio França, na chapa de reeleição de Geraldo Alckmin.
Marina não fez questão de esconder que, assim que terminasse a eleição presidencial, ela retomaria seu projeto de tornar o Rede um partido político. Ficou claro que ela deixaria o PSB qualquer que fosse o resultado das urnas.
Eduardo Campos sempre procurou evitar criticar as posições de Marina, mas, na cúpula do partido, ela amelhou adversários.
O maior deles, internamente, é exatamente o vice-presidente da agremiação, Roberto Amaral, a quem recairá a direção do partido. Ele terá peso decisivo na batida do martelo sobre qual será o rumo que o partido tomará nos próximos dias.

Político com forte posicionamento ideológico de esquerda, Amaral diverge em grande parte do ideário defendido por Marina. Ao longo da pré-campanha e na etapa de definição da vice foram trocadas farpas entre eles. Em agosto de 2013, Amaral publicou um artigo com críticas ácidas direcionadas a Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Resende, principais gurus de Marina na área econômica.
Diante da insistência dela e do Rede em aceitar as alianças articuladas pelo PSB, Amaral atuava para demarcar a diferença das duas posições. "Se não tiver consenso em algum Estado, é possível que o PSB tenha um candidato e a Rede apoie outro nome".
A estas divergências soma-se o fato de que o ingresso de Marina e seus partidários nas hostes do PSB aconteceu de maneira inusitada. Sem conseguir registrar o Rede Sustentabilidade na Justiça Eleitoral, a ex-ministra ingressou na legenda socialista e, em troca, ficou com a vaga de vice.
Para o PSB, a entrada da ex-senadora na chapa majoritária representava a oportunidade de abocanhar uma boa parte do capital eleitoral de Marina, que nas últimas eleições presidenciais teve 20 milhões de votos. Esta transferência de votos, contudo, acabou não acontecendo na velocidade esperada. As pesquisas de intenção de voto colocavam Campos em terceiro lugar, atrás da presidente Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB), oscilando em torno de 10% da preferência do eleitorado. Por outro lado, o PSB sempre apontou crescimento nas pesquisas quando o nome de Marina era colocado à frente da chapa.
RELACIONAMENTO ÁSPERO - Com a definição do PSB em torno do nome de Campos, Amaral terá que decidir se o partido vai escolher um outro nome capaz de assumir a cabeça de chapa e ainda ter competitividade o bastante para enfrentar o PT e o PSDB no pleito de outubro. A alternativa seria entregar a candidatura diretamente a Marina Silva, que continua tentando viabilizar a criação da Rede enquanto partido, independentemente de estar no PSB.
Um outro fator que o partido deverá levar em consideração são os arranjos estaduais costurados em grande parte por Campos. Em muitos Estados, o PSB abriu mão de candidatura próprias por conta da pressão exercida pela Rede e em outros como o caso de Pernambuco, a figura de Campos era mais do que necessária para alavancar a candidatura dos socialistas nas disputas regionais.
O presidente do PSB em São Paulo, Márcio França, destacou que a legenda manterá uma candidatura própria ao Planalto. "Não há a possibilidade de abrirmos mão de candidatura própria", disse no início desta tarde. Apesar desta defesa, ele evitou comentar a possibilidade de quem poderá assumir a cabeça da chapa, o que deixa ainda nebuloso o futuro da legenda. "Ninguém tem cabeça para pensar nisso agora", observou.
"Primeiro, vamos enterrar o nosso presidente. Depois, assumo a presidência e convoco o diretório nacional do partido", disse Roberto Amaral ao embarcar em um voo no Aeroporto Santos Dumont com destino a Santos, para acompanhar os trabalhos de resgate.
Caso opte por Marina, muitos palanques estaduais do PSB, além das postulações a Câmara e ao Senado, correm o risco de terem seus palanques enfraquecido. Caso lance um candidato de maior tradição dentro do PSB, em lugar de Marina, a legenda também corre o risco de não conseguir força suficiente para se firmar como um partido de peso no Congresso Nacional.
É com essas questões que Amaral e o PSB já se deparam e têm dez dias, como prazo legal, para definir o substituto de Campos. Pode até dar Marina, mas não pelo motivo de de ela ter se tornado uma 'candidata natural'. Para a cúpula do PSB, essa figura desapareceu com o ex-governador Eduardo Campos. O que eles terão de pesar é o fato de que Marina aparece, em todas as pesquisas nas quais foi testada como candidata a presidente, em segundo lugar. Ao indicam os levantamentos, com ela concorrendo haveria uma chace muito mais forte de haver segundo turno na eleição. O PSB poderá mesmo abrir mão desta oportunidade.