PSB sofre perda e dilema: ser ou não ser Marina?
Apesar de ter força nas pesquisas, ex-ministra não é candidata natural dentro do PSB para substituir Eduardo Campos; relações entre Marina Silva e chefes da legenda vinham sendo ásperas durante toda a campanha; chefe do Rede discordou frontalmente de alianças regionais feitas pela agremiação; atual vice-presidente, Roberto Amaral nunca escondeu insatisfação com críticas dela; candidato a vice-governador de São Paulo, Márcio França foi pivô de descontentamento da vice de Campos, que não aceitou coligação com PSDB; deputada Luiza Erundina é aliada de Marina, mas sempre foi minoria no comando do partido; prazo legal para substituição é de dez dias; o que fazer?A hipótese de prevalecer a solução que alguns consideram natural - a escolha de Marina -, não é tão simples de ser concretizada. Ao longo de toda a campanha presidencial até aqui, ela se posicionou frontalmente contrária à maioria das alianças regionais feitas pelo PSB, inclusive a de São Paulo, que colocou um candidato a vice socialista, Márcio França, na chapa de reeleição de Geraldo Alckmin.
Marina não fez questão de esconder que, assim que terminasse a eleição presidencial, ela retomaria seu projeto de tornar o Rede um partido político. Ficou claro que ela deixaria o PSB qualquer que fosse o resultado das urnas.
Eduardo Campos sempre procurou evitar criticar as posições de Marina, mas, na cúpula do partido, ela amelhou adversários.
O maior deles, internamente, é exatamente o vice-presidente da agremiação, Roberto Amaral, a quem recairá a direção do partido. Ele terá peso decisivo na batida do martelo sobre qual será o rumo que o partido tomará nos próximos dias.
Político com forte posicionamento ideológico de esquerda, Amaral diverge em grande parte do ideário defendido por Marina. Ao longo da pré-campanha e na etapa de definição da vice foram trocadas farpas entre eles. Em agosto de 2013, Amaral publicou um artigo com críticas ácidas direcionadas a Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Resende, principais gurus de Marina na área econômica.
Diante da insistência dela e do Rede em aceitar as alianças articuladas pelo PSB, Amaral atuava para demarcar a diferença das duas posições. "Se não tiver consenso em algum Estado, é possível que o PSB tenha um candidato e a Rede apoie outro nome".
A estas divergências soma-se o fato de que o ingresso de Marina e seus partidários nas hostes do PSB aconteceu de maneira inusitada. Sem conseguir registrar o Rede Sustentabilidade na Justiça Eleitoral, a ex-ministra ingressou na legenda socialista e, em troca, ficou com a vaga de vice.
Para o PSB, a entrada da ex-senadora na chapa majoritária representava a oportunidade de abocanhar uma boa parte do capital eleitoral de Marina, que nas últimas eleições presidenciais teve 20 milhões de votos. Esta transferência de votos, contudo, acabou não acontecendo na velocidade esperada. As pesquisas de intenção de voto colocavam Campos em terceiro lugar, atrás da presidente Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB), oscilando em torno de 10% da preferência do eleitorado. Por outro lado, o PSB sempre apontou crescimento nas pesquisas quando o nome de Marina era colocado à frente da chapa.
RELACIONAMENTO ÁSPERO - Com a definição do PSB em torno do nome de Campos, Amaral terá que decidir se o partido vai escolher um outro nome capaz de assumir a cabeça de chapa e ainda ter competitividade o bastante para enfrentar o PT e o PSDB no pleito de outubro. A alternativa seria entregar a candidatura diretamente a Marina Silva, que continua tentando viabilizar a criação da Rede enquanto partido, independentemente de estar no PSB.
Um outro fator que o partido deverá levar em consideração são os arranjos estaduais costurados em grande parte por Campos. Em muitos Estados, o PSB abriu mão de candidatura próprias por conta da pressão exercida pela Rede e em outros como o caso de Pernambuco, a figura de Campos era mais do que necessária para alavancar a candidatura dos socialistas nas disputas regionais.
O presidente do PSB em São Paulo, Márcio França, destacou que a legenda manterá uma candidatura própria ao Planalto. "Não há a possibilidade de abrirmos mão de candidatura própria", disse no início desta tarde. Apesar desta defesa, ele evitou comentar a possibilidade de quem poderá assumir a cabeça da chapa, o que deixa ainda nebuloso o futuro da legenda. "Ninguém tem cabeça para pensar nisso agora", observou.
"Primeiro, vamos enterrar o nosso presidente. Depois, assumo a presidência e convoco o diretório nacional do partido", disse Roberto Amaral ao embarcar em um voo no Aeroporto Santos Dumont com destino a Santos, para acompanhar os trabalhos de resgate.
Caso opte por Marina, muitos palanques estaduais do PSB, além das postulações a Câmara e ao Senado, correm o risco de terem seus palanques enfraquecido. Caso lance um candidato de maior tradição dentro do PSB, em lugar de Marina, a legenda também corre o risco de não conseguir força suficiente para se firmar como um partido de peso no Congresso Nacional.
É com essas questões que Amaral e o PSB já se deparam e têm dez dias, como prazo legal, para definir o substituto de Campos. Pode até dar Marina, mas não pelo motivo de de ela ter se tornado uma 'candidata natural'. Para a cúpula do PSB, essa figura desapareceu com o ex-governador Eduardo Campos. O que eles terão de pesar é o fato de que Marina aparece, em todas as pesquisas nas quais foi testada como candidata a presidente, em segundo lugar. Ao indicam os levantamentos, com ela concorrendo haveria uma chace muito mais forte de haver segundo turno na eleição. O PSB poderá mesmo abrir mão desta oportunidade.
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