terça-feira, 6 de maio de 2014

Não são gastos públicos que estão pressionando a inflação, diz Mantega

Economia do governo, superávit, em 2013 foi a menor desde 2009.
Ministro da Fazenda disse que redução de gastos seria 'paz de cemitério'.

Do G1, em São Paulo
"Não são os gastos públicos que estão pressionando a inflação", disse o ministro da Fazenda Guido Mantega nesta terça-feira (6). Para o ministro, são as pressões nos preços dos alimentos e das commodities, influenciadas por fatores internacionais e climáticos, que estão gerando aumento de preços.
Mantega destacou que o governo tem poupado e feito economia para pagar os juros da dívida – o superávit primário –, em todos os anos, com destaque para 2008. Ele não mencionou que o resultado de 2013 foi o menor desde 2009 - quando foi registrado um superávit primário de R$ 39,43 bilhões (1,2% do PIB).
O ministro se mostrou contrário a fazer uma economia maior de gastos, que chamou de "paz de cemitério", por considerar que devasta o país. Por outro lado, disse que "é claro que se você gasta menos, pressiona menos a inflação".
O ministro não vê contradição entre o volume de gastos do governo – que estimula a inflação – e o aumento de juros por parte do Banco Cenral – para frear a alta dos preços. Desde abril do ano passado, a autoridade monetária elevou a Selic de 7,25% para 11% ao ano. "Temos apoiado o BC na sua política monetária porque o mal maior na economia é a inflação. Então, se é preciso tomar uma medida que pode prejudicar um pouco o crescimento, tomamos porque vai ajudar no crescimento depois", disse.
Ele defendeu que a política expansionista em gastos do governo, que estimulou o investimento e o emprego, ao contrário do que foi feito nos países europeus com as políticas de austeridade e redução de gastos. "O Brasil se saiu muito bem (na crise) porque optamos por fazer política anticíclica (de aumento de gastos em períodos difíceis) e com essas medidas nos recuperamos rapidamente", disse.
Mantega em entrevista à TV Brasil. (Foto: Reprodução)Mantega em entrevista à TV Brasil. (Foto: Reprodução)
O ministro assumiu que o governo "forçou um pouco a barra" para fechar as contas de 2012 e atingir a meta de superávit, quando usou verbas do fundo soberano, no que foi chamado de contabilidade criativa. "Em 2012, tivemos de fazer um grande esforço para chegar à meta, tivemos que cortar gastos, fazer uma ginástica", afirmou. No entanto disse que, a partir de então, evita qualquer forma de cálculo "que possa parecer errada, mesmo que não seja".
Para alcançar a meta de economia naquele ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) comprou ações da Petrobras que estavam no Fundo Fiscal de Investimentos e Estabilização (FFIE), que concentra as aplicações do fundo soberano brasileiro - formado com a "sobra" do superávit primário de 2008 - e as repassou ao Tesouro Nacional.
Inflação
Mantega
voltou a dizer que os preços estão caindo e que a alta dos alimentos é sazonal e haverá redução dos preços. Além da pressão de preços commodities e alimentares, o ministro citou a desvalorização do real como outro motivo de aumento de inflação.
Considerado a "inflação oficial" do país, por ser usado como base para as metas do governo federal, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou em 0,92% em março – a maior taxa para o mês desde 2003, quando o indicador estava em 1,23%.
O ministro disse ainda que gostaria de trabalhar com uma meta de inflação mais baixa que a atual – que é de 4,5% podendo ser até 2 pontos percentuais maior –, mas "ainda não reunimos as condições para isso". "Vamos ser realistas, vamos trabalhar com o que vem acontecendo nos últimos anos", disse ele apontando as pressões nos preços de alimentos e a desvalorização do real em relação ao dólar.
Questionado sobre as razões de o crescimento do país estar baixo, Mantega disse que o "PIB reflete a crise da economia internacional", que parecia ter sido superada, mas ainda não foi. Ele disse ainda que a indústria no país foi mais impactada pela crise que o setor de commodities, por conta da redução do mercado consumidor de produtos industrializados.
Emprego
O ministro destacou que a inflação tem ficado no centro da meta, o que mostra que a política econômica está no caminho certo. "Tem gente que acha que o pleno emprego, o baixo desemprego pode causar a inflação, o que significa que o trabalhador tem de ganhar mal. Então quando ganha bem, causa uma pressão na inflação, mas nós não comungamos essa tese", afirmou.

Mantega deu entrevista à TV Brasil na noite desta terça. O programa destacou que o ministro está há oito anos no cargo, sendo o que mais tempo ficou no cargo.

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