sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Para Mario Paulino, tucano teria de superar feito de Lula sobre Brizola na eleição de 1989, quando empate ocorreu mais cedo

Uma virada de Aécio Neves (PSDB) sobre Marina Silva (PSB) não é descartada, mas seria algo inédito em disputas presidenciais. Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, o feito é comparável ao que fez o então candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva em 1989, quando conseguiu uma vaga para o segundo turno ultrapassando o pedetista Leonel Brizola. Mesmo assim, Paulino lembra que os dois já estavam empatados tecnicamente bem antes da última semana, enquanto Aécio e Marina só alcançaram essa condição a poucos dias da ida às urnas.
“Seria uma coisa inédita. Não houve um cenário de disputa em final de campanha tão acirrado quanto esse. Talvez o que mais se aproxime seja a disputa entre Lula e Leonel Brizola em 1989, mas eles já vinham empatados desde a metade do horário eleitoral”, diz Paulino. Segundo o diretor do Datafolha, embora Marina já tenha perdido votos para Dilma Rousseff (PT), sua sangria atual drena votos diretamente para Aécio.
Naquela eleição, o Datafolha foi o primeiro instituto de pesquisa a identificar a virada de Lula sobre Brizola. Desta vez, a mais recente pesquisa do instituto também já coloca Aécio e Marina em condição de empate técnico, embora outros levantamentos ainda mostrem a ex-senadora na dianteira.
Sete presidenciáveis que participaram do debate da TV Globo na noite desta quinta-feira (02). Foto: Reuters
Quem tem mais probabilidade de estar no 2º turno, Marina ou Aécio?
Não dá para dizer. O que é possível dizer é que até esse momento, se a eleição fosse hoje, seria mais provável que fosse Marina, mas há um claro movimento de confluência das curvas. A pergunta que se coloca é se há tempo para Aécio de fato alcançar a Marina até o dia da eleição.
Ao mesmo tempo, Dilma se aproximou de vitória no primeiro turno. Temos mesmo chances reais de ver a eleição definida no primeiro turno?
Também existe essa possibilidade. Dilma, segundo o Datafolha, está a seis ponto de uma vitória no primeiro turno. Não dá para dizer que ela não tenha condições de alcançar esse patamar até o dia da eleição. Agora, seria um feito que nem mesmo o Lula no auge da popularidade conseguiu, vencer a eleição no primeiro turno. Vai depender muito de algo que também é bastante imprevisível, que é a taxa de votos brancos e nulos. Se houver uma taxa de brancos e nulos alta, a possibilidade de Dilma vencer no primeiro turno aumenta.

Quer dizer, Dilma não precisa necessariamente atrair mais votos para si?
Se no dia da eleição tivermos uma taxa (de brancos e nulos) mais alta que nas últimas três eleições, quando esse índice ficou entre 10% e 8%, e dependendo de quão alta for essa taxa, aumenta a chance de Dilma fechar no primeiro turno.

Dilma tem o maior índice de rejeição entre os três primeiros colocados, mas apesar disso continua firme na liderança e crescendo. Por que a rejeição não tem atrapalhado a presidente?
Talvez se Dilma não tivesse o índice de rejeição no patamar que tem, próximo dos 30%, estivesse numa situação mais confortável para fechar no primeiro turno. Não dá para dizer que a rejeição não está tendo efeito. Até porque, a candidata que vem caindo, que vem numa linha descendente, é também a que está numa linha ascendente em rejeição, que é a Marina.

Por que a Marina vem caindo tanto?
Efeito da propaganda. Uma propaganda massiva de desconstrução de sua imagem e ataques num nível que em nenhum momento de sua carreira política ela sofreu. Isso fez com que parte dos eleitores, principalmente eleitores de renda mais baixa, passassem a ter uma insegurança em votar nela, mesmo desejando mudanças, com medo de perder os benefícios conquistados nos governos petistas.

Os votos que Marina perdem têm ido mais para o Aécio ou para Dilma?
Em determinado momento, foram mais para Dilma. Mas, neste momento, há uma migração maior para o Aécio.

E dá tempo para o Aécio virar?
Em eleições presidenciais não tivemos ainda um cenário parecido com esse, de aproximação de dois candidatos na reta final. Talvez em 2006, quando [o governador de São Paulo Geraldo] Alckmin se aproximou, houve um crescimento contínuo dele a partir do início do horário eleitoral gratuito. Ele foi subindo ponto a ponto a cada pesquisa e no final ele conseguiu chegar ao segundo turno. Partiu de 24% antes do horário eleitoral e chegou a 38%. Mas não era uma disputa para saber quem iria ao segundo turno, a vaga já estava garantida.

Quer dizer que uma virada do Aécio, dadas as condições, seria algo inédito?
Seria uma coisa inédita. Não houve um cenário de disputa em final de campanha tão acirrado quanto esse. Talvez o que mais se aproxime seja a disputa entre Lula e Leonel Brizola em 1989, mas eles já vinham empatados desde a metade do horário eleitoral.

O que chama a atenção nos últimos levantamentos?
A continuidade das curvas. Tanto as de intenção de votos, quanto a curva de rejeição de Marina. E também a estabilização da Dilma, nesse patamar de 40% já há três pesquisas.

A queda de Marina é irreversível nessa altura? Vai continuar o ela chegou ao piso?
É difícil dizer se é irreversível ou se ela chegou ao piso. Ela partiu de 21% na primeira pesquisa feita logo após a tragédia com o Eduardo Campos. Esse foi o patamar inicial dela, talvez esse possa ser o piso, mas não é possível dizer. A única coisa que é possível dizer é o resultado atual.

O distanciamento com o acidente que vitimou Eduardo Campos também ajuda a desidratar os índices da Marina? A comoção passou e levou consigo os votos?
Acho que não. Acho que não houve esse efeito de comoção nem no crescimento dela e nem agora nessa desidratação. Na verdade houve uma identificação inicial de um eleitorado que deseja a mudança, com a candidatura da Marina, já que ela apareceu naquele momento como uma novidade. Ela já aparecia bem colocada em abril (nas pesquisas pré-convenções) quando sua candidatura ainda era uma possibilidade. Ela aparecia com 27%. É um capital eleitoral de Marina o patamar máximo que ela atingiu. E essa perda se deve mais a campanha negativa feita tanto pelo PT quanto pelo PSDB em relação a ela.
 

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