Personalidades lançam abaixo-assinado pela democracia e contra Bolsonaro
por Redação — publicado 23/09/2018 19h35, última modificação 23/09/2018 21h10
Artistas e intelectuais de diversas áreas e posições políticas se mobilizam no manifesto Democracia Sim
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Marcelo Camargo/ABr
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'Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial', diz o documento
Um grupo de personalidade, de diferentes posições políticas, lançou o abaixo-assinado Democracia Sim. O manifesto, que até a noite deste do domingo 23 reunia 333 nomes, conta com o endosso principalmente de artistas e intelectuais com trajetórias pessoais e públicas variadas e está aberto para colher a assinatura de cidadãos que se identifiquem com o que eles defendem.
O texto lembra que o Brasil enfrenta desafios e que o desgaste da classe política disseminou um sentimento de descrença. "Mas sabemos também dos perigos de pretender responder a isso com concessões ao autoritarismo, à erosão das instituições democráticas ou à desconstrução da nossa herança humanista primordial", afirma.
O manifesto afirma também que as assinaturas unem brasileiros que votam em pessoas e partidos diversos, que defendem causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos.
"Mas temos em comum o compromisso com a democracia. Com a liberdade, a convivência plural e o respeito mútuo. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação."
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Em comum, os signatários repudiam a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). "É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós."
As 333 assinaturas reúnem artistas como Alessandra Negrini, Leandra Leal e Tulipa Ruiz, que já se manifestaram aliadas às candidaturas à esquerda, sem dar nomes, e Patrícia Pillar, que publicamente vota em Ciro Gomes. O casal Caetano Veloso e Paula Lavigne, também apoiadores públicos de Ciro, estão na lista.
A lista conta ainda com o economista Bernard Appy, que foi do governo Lula e desenhou uma proposta de reforma tributária endossada por diversos presidenciáveis, e com o advogado Miguel Reale Jr, historicamente ligado ao PSDB. Outros tucanos aderiram, entre eles Andrea Calabi e Celso Lafer, que foram ministros de Fernando Henrique Cardoso, e Claudia Costin.
O médico Drauzio Varella, a historiadora Lilia Schwarcz, o empresário Guilherme Leal, antigo apoiador de Marina Silva, a socióloga Esther Solano, o ator Wagner Moura, o comentarista esportivo Walter Casagrande Jr, o jornalista Juca Kfouri, o cineasta Walter Salles e Danilo Santos de Miranda, presidente do Sesc em São Paulo, são outros nomes que assinam o manifesto.
No fim, o texto afirma que é a democracia que provê abertura, inclusão e prosperidade aos povos que a cultivam com solidez no mundo. "Que nos trouxe nos últimos 30 anos a estabilidade econômica, o início da superação de desigualdades históricas e a expansão sem precedentes da cidadania entre nós... Por isso, estamos preparados para estar juntos na sua defesa em qualquer situação, e nos reunimos aqui no chamado para que novas vozes possam convergir nisso. E para que possamos, na soma da nossa pluralidade e diversidade, refazer as bases da política e cidadania compartilhadas e retomar o curso da sociedade vibrante, plena e exitosa que precisamos e podemos ser."
Confira a íntegra do manifesto:
Pela Democracia, pelo Brasil
Somos diferentes. Temos trajetórias pessoais e públicas variadas. Votamos em pessoas e partidos diversos. Defendemos causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos.
Mas temos em comum o compromisso com a democracia. Com a liberdade, a convivência plural e o respeito mútuo. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação.
Como todos os brasileiros e brasileiras sabemos da profundidade dos desafios que nos convocam nesse momento. Mais além deles, do imperativo de superar o colapso do nosso sistema político, que está na raiz das crises múltiplas que vivemos nos últimos anos e que nos trazem ao presente de frustração e descrença.
Mas sabemos também dos perigos de pretender responder a isso com concessões ao autoritarismo, à erosão das instituições democráticas ou à desconstrução da nossa herança humanista primordial.
Podemos divergir intensamente sobre os rumos das políticas econômicas, sociais ou ambientais, a qualidade deste ou daquele ator político, o acerto do nosso sistema legal nos mais variados temas e dos processos e decisões judiciais para sua aplicação. Nisso, estamos no terreno da democracia, da disputa legítima de ideias e projetos no debate público.
Quando, no entanto, nos deparamos com projetos que negam a existência de um passado autoritário no Brasil, flertam explicitamente com conceitos como a produção de nova Constituição sem delegação popular, a manipulação do número de juízes nas cortes superiores ou recurso a autogolpes presidenciais, acumulam declarações francamente xenofóbicas e discriminatórias contra setores diversos da sociedade, refutam textualmente o princípio da proteção de minorias contra o arbítrio e lamentam o fato das forças do Estado terem historicamente matado menos dissidentes do que deveriam, temos a consciência inequívoca de estarmos lidando com algo maior, e anterior a todo dissenso democrático.
Conhecemos amplamente os resultados de processos históricos assim. Tivemos em Jânio e Collor outros pretensos heróis da pátria, aventureiros eleitos como supostos redentores da ética e da limpeza política, para nos levar ao desastre. Conhecemos 20 anos de sombras sob a ditadura, iniciados com o respaldo de não poucos atores na sociedade. Testemunhamos os ecos de experiências autoritárias pelo mundo, deflagradas pela expectativa de responder a crises ou superar impasses políticos, afundando seus países no isolamento, na violência e na ruína econômica. Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários.
Em momento de crise, é preciso ter a clareza máxima da responsabilidade histórica das escolhas que fazemos.
Esta clareza nos move a esta manifestação conjunta, nesse momento do país. Para além de todas as diferenças, estivemos juntos na construção democrática no Brasil. E é preciso saber defendê-la assim agora.
É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós.
Prezamos a democracia. A democracia que provê abertura, inclusão e prosperidade aos povos que a cultivam com solidez no mundo. Que nos trouxe nos últimos 30 anos a estabilidade econômica, o início da superação de desigualdades históricas e a expansão sem precedentes da cidadania entre nós. Não são, certamente, poucos os desafios para avançar por dentro dela, mas sabemos ser sempre o único e mais promissor caminho, sem ovos de serpente ou ilusões armadas.
Por isso, estamos preparados para estar juntos na sua defesa em qualquer situação, e nos reunimos aqui no chamado para que novas vozes possam convergir nisso. E para que possamos, na soma da nossa pluralidade e diversidade, refazer as bases da política e cidadania compartilhadas e retomar o curso da sociedade vibrante, plena e exitosa que precisamos e podemos ser.
por Redação — publicado 23/09/2018 19h35, última modificação 23/09/2018 21h10
Artistas e intelectuais de diversas áreas e posições políticas se mobilizam no manifesto Democracia Sim
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'Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial', diz o documento
Um grupo de personalidade, de diferentes posições políticas, lançou o abaixo-assinado Democracia Sim. O manifesto, que até a noite deste do domingo 23 reunia 333 nomes, conta com o endosso principalmente de artistas e intelectuais com trajetórias pessoais e públicas variadas e está aberto para colher a assinatura de cidadãos que se identifiquem com o que eles defendem.
O texto lembra que o Brasil enfrenta desafios e que o desgaste da classe política disseminou um sentimento de descrença. "Mas sabemos também dos perigos de pretender responder a isso com concessões ao autoritarismo, à erosão das instituições democráticas ou à desconstrução da nossa herança humanista primordial", afirma.
O manifesto afirma também que as assinaturas unem brasileiros que votam em pessoas e partidos diversos, que defendem causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos.
"Mas temos em comum o compromisso com a democracia. Com a liberdade, a convivência plural e o respeito mútuo. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação."
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Em comum, os signatários repudiam a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). "É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós."
As 333 assinaturas reúnem artistas como Alessandra Negrini, Leandra Leal e Tulipa Ruiz, que já se manifestaram aliadas às candidaturas à esquerda, sem dar nomes, e Patrícia Pillar, que publicamente vota em Ciro Gomes. O casal Caetano Veloso e Paula Lavigne, também apoiadores públicos de Ciro, estão na lista.
A lista conta ainda com o economista Bernard Appy, que foi do governo Lula e desenhou uma proposta de reforma tributária endossada por diversos presidenciáveis, e com o advogado Miguel Reale Jr, historicamente ligado ao PSDB. Outros tucanos aderiram, entre eles Andrea Calabi e Celso Lafer, que foram ministros de Fernando Henrique Cardoso, e Claudia Costin.
O médico Drauzio Varella, a historiadora Lilia Schwarcz, o empresário Guilherme Leal, antigo apoiador de Marina Silva, a socióloga Esther Solano, o ator Wagner Moura, o comentarista esportivo Walter Casagrande Jr, o jornalista Juca Kfouri, o cineasta Walter Salles e Danilo Santos de Miranda, presidente do Sesc em São Paulo, são outros nomes que assinam o manifesto.
No fim, o texto afirma que é a democracia que provê abertura, inclusão e prosperidade aos povos que a cultivam com solidez no mundo. "Que nos trouxe nos últimos 30 anos a estabilidade econômica, o início da superação de desigualdades históricas e a expansão sem precedentes da cidadania entre nós... Por isso, estamos preparados para estar juntos na sua defesa em qualquer situação, e nos reunimos aqui no chamado para que novas vozes possam convergir nisso. E para que possamos, na soma da nossa pluralidade e diversidade, refazer as bases da política e cidadania compartilhadas e retomar o curso da sociedade vibrante, plena e exitosa que precisamos e podemos ser."
Confira a íntegra do manifesto:
Pela Democracia, pelo Brasil
Somos diferentes. Temos trajetórias pessoais e públicas variadas. Votamos em pessoas e partidos diversos. Defendemos causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos.
Mas temos em comum o compromisso com a democracia. Com a liberdade, a convivência plural e o respeito mútuo. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação.
Como todos os brasileiros e brasileiras sabemos da profundidade dos desafios que nos convocam nesse momento. Mais além deles, do imperativo de superar o colapso do nosso sistema político, que está na raiz das crises múltiplas que vivemos nos últimos anos e que nos trazem ao presente de frustração e descrença.
Mas sabemos também dos perigos de pretender responder a isso com concessões ao autoritarismo, à erosão das instituições democráticas ou à desconstrução da nossa herança humanista primordial.
Podemos divergir intensamente sobre os rumos das políticas econômicas, sociais ou ambientais, a qualidade deste ou daquele ator político, o acerto do nosso sistema legal nos mais variados temas e dos processos e decisões judiciais para sua aplicação. Nisso, estamos no terreno da democracia, da disputa legítima de ideias e projetos no debate público.
Quando, no entanto, nos deparamos com projetos que negam a existência de um passado autoritário no Brasil, flertam explicitamente com conceitos como a produção de nova Constituição sem delegação popular, a manipulação do número de juízes nas cortes superiores ou recurso a autogolpes presidenciais, acumulam declarações francamente xenofóbicas e discriminatórias contra setores diversos da sociedade, refutam textualmente o princípio da proteção de minorias contra o arbítrio e lamentam o fato das forças do Estado terem historicamente matado menos dissidentes do que deveriam, temos a consciência inequívoca de estarmos lidando com algo maior, e anterior a todo dissenso democrático.
Conhecemos amplamente os resultados de processos históricos assim. Tivemos em Jânio e Collor outros pretensos heróis da pátria, aventureiros eleitos como supostos redentores da ética e da limpeza política, para nos levar ao desastre. Conhecemos 20 anos de sombras sob a ditadura, iniciados com o respaldo de não poucos atores na sociedade. Testemunhamos os ecos de experiências autoritárias pelo mundo, deflagradas pela expectativa de responder a crises ou superar impasses políticos, afundando seus países no isolamento, na violência e na ruína econômica. Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários.
Em momento de crise, é preciso ter a clareza máxima da responsabilidade histórica das escolhas que fazemos.
Esta clareza nos move a esta manifestação conjunta, nesse momento do país. Para além de todas as diferenças, estivemos juntos na construção democrática no Brasil. E é preciso saber defendê-la assim agora.
É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós.
Prezamos a democracia. A democracia que provê abertura, inclusão e prosperidade aos povos que a cultivam com solidez no mundo. Que nos trouxe nos últimos 30 anos a estabilidade econômica, o início da superação de desigualdades históricas e a expansão sem precedentes da cidadania entre nós. Não são, certamente, poucos os desafios para avançar por dentro dela, mas sabemos ser sempre o único e mais promissor caminho, sem ovos de serpente ou ilusões armadas.
Por isso, estamos preparados para estar juntos na sua defesa em qualquer situação, e nos reunimos aqui no chamado para que novas vozes possam convergir nisso. E para que possamos, na soma da nossa pluralidade e diversidade, refazer as bases da política e cidadania compartilhadas e retomar o curso da sociedade vibrante, plena e exitosa que precisamos e podemos ser.
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